terça-feira, 15 de novembro de 2022

IX

O que significa crescer? Não é um conceito que entenda com facilidade. Toda a minha infância tive os meus irmãos a dizer-me que nasci velha e agora nas sessões de terapia que faço dizem-me para aceitar que já não sou uma criança. Talvez tenha nascido ao contrário em espirito e alma, um Benjamin Button interno. Mas volto à mesma questão, o que significa crescer? Será conformar-me, deixar de sonhar, aceitar que sou eu que tenho as rédeas da minha vida mas não controlo nada? Ouvir a frase "já não és uma criança" como se alguma vez ser criança para mim tivesse sido ser vítima das circunstâncias ou chorar para ter o que queria. Não foi a minha realidade, mas também não paro agora a chorar com pena de mim porque o fogo que me propulsiona vem exactamente da luta que sempre tive com o não ser como os outros, ou ter o mesmo que os outros, ser tanto como os outros. Uma das últimas conversas que tive com uma pessoa que mexe comigo, ou mexeu - já nem sei, tocou nesse ponto. Ele mencionou que eu penso sempre que não sou boa o suficiente, mas creio que ele não esperava a minha resposta assim como quando me comparava com outras pessoas, amigos meus me ralhavam mas a resposta é a mesma - Pensar menos de mim ou das minhas circunstâncias até me fez esforçar mais para ser mais e melhor todos os dias. E agora? Agora cresci e já acredito que sou mais e melhor do que fui, mas nunca me vou contentar com onde cheguei, quero acrescentos e upgrades. Se calhar é isso que é crescer para mim, continuar a evoluir...

terça-feira, 1 de novembro de 2016

VIII

Quanto vale a frase "Amo-te" quando é repetida vezes sem conta como desculpa ou argumento para encerrar uma discussão ou debate de ideias?
Penso e falo com os meus botões sobre esta questão.
Ao longo do meu percurso ouvi essa frase e na realidade ela não queria dizer nada, as palavras eram ocas.

O que significa então "Amo-te"? Como sei que é real? Será que a intensidade da frase se perde com o tempo?

Uma das vezes que me disseram a maravilhosa frase, eu tinha 18 anos e estava completamente perdida de amores por um colega da faculdade que estudava Geografia.
Ao som de Pedro Abrunhosa no Parque das Nações numa passagem de ano, saiu do meu lado e foi para o meio da rua gritá-lo.

É uma boa recordação que tenho pela forma arrojada como o fez, confesso...
Três meses depois de tão ousada e pública declaração, convidou-me para tomar café e deu-me a conversa do "A culpa não é tua, é minha. Mereces muito melhor que eu, apenas te faço mal".
Todos nós já ouvimos isto em alguma altura, eu ouvi-o logo no início de pensar em relações em vez de namoricos.

Quanto valia aquele "Amo-te" em frente dos meus colegas e amigos e dos milhares de pessoas que se juntaram para aquela passagem de ano?

Esses loucos anos em que eu apenas queria disfrutar de tudo como se não existisse um amanhã, em que eu era ainda mais romantica incurável do que sou agora, pois a idade trouxe o cepticismo, a incapacidade de acreditar.

Mas até que ponto estamos vivos se deixarmos de acreditar que é possível? Porque podemos magoar-nos mas vamos deixar de tentar?

Como um bom amigo me diz "Hearts are meant to be broken" mas seria tão melhor se não acontecesse.

Sofia P.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

VII

A minha cabeça não pára...
Todos me dizem que penso demais e que os meus pensamentos são meus inimigos mas não consigo desligar as rodinhas que giram dentro de mim.

Quanto mais o tempo passa, mais eu acho que nasci com o género errado.
Tenho um colega que em tom de brincadeira me chama "man with boobs", o que não é de todo infundado.

Cada vez mais acho que apesar das minhas crises existenciais tipicamente femininas, todos os meus desejos, comportamentos, por vezes até a linguagem e queixumes são tipicamente masculinos.
Digo palavrões, não me sento com as pernas cruzadas, tenho um apetite sexual identico ao de um adolescente, quando acho que já não há nada a fazer deixo de responder, de me esforçar ou mesmo reagir.

Não sei se será fruto de ter crescido com homens e de os meus melhores amigos na idade de desenvolver a minha personalidade serem maioritariamente homens também.

O que eu sei é que nem sempre foi tão vincado como agora. Passar pela vida de namorada, esposa e tudo que isso implicou até chegar ao estado de divorciada acabou por mudar-me ou talvez apenas voltar a despertar o que era antes de tentar fazer tudo para agradar a alguém mais do que a mim. Mas mais insuportável ainda do que era, porque agora ao revoltada acrescento, sim admito, amarga e praticamente incapaz de confiar em quem quer que seja.

Desconfiada sempre fui, sempre tive dificuldade em partilhar sentimentos e expor-me.
Fui criada assim, emoção era fraqueza, não procuramos as pessoas, elas se nos quiserem bem ou se tiverem algum tipo de preocupação conosco, vêm até nós.

É claro que isso acaba por levar os outros a pensar que sou uma cabra fria, ciumenta e insensível com um traço de arrogância.

A outra grande diferença de antes para agora é que deixei de me importar com o facto das pessoas irem e nunca voltarem, perdi a paciência para aturar coisas e pessoas que não são importantes ou não me consideram relevante o suficiente para manter uma relação seja lá qual ela for.
Lá está como um homem... os homens quando se chateiam, insultam-se, andam à batatada e depois seguem com a vida deles até que um dia se encontram na rua e está tudo bem.

Assim estou aqui, sentada no meu canto, a pensar que já passou demasiado tempo desde que eu tenho o que eu realmente quero e preciso. E os outros... os outros que se danem.
Eu sei o que preciso, sei o que quero, se o peço e não me dão, não me respondem, não me procuram e ignoram, então talvez seja o momento de cortar o mal pela raiz.

Alguma jardinagem já está feita, falta o resto. É tudo uma questão de tempo.
Gostava de vir abrir a minha alma e ter algo de bom para dizer para variar. Sim, eu sei que em parte a culpa é minha, mas também tenho sempre muito filho/a de uma senhora da má vida que gostam de me estragar o dia ou azedar os meus ânimos.

Que vão todos para onde o sol não brilha!

Dizem que passamos por 7 estágios antes de recuperarmos de uma situação traumática, bem... acho que cheguei à revolta... mas supostamente estou na depressão.
Até nisto já estou completamente baralhada...





segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

VI

Um dia quando menos esperas acordas e percebes que a tua vida continua na mesma e que algo tem de mudar, que tudo o que acontece vai levar-te exactamente à mesma história apenas com personagens diferentes.
A grande diferença é que agora já sei como acaba a história... ou pelo menos cada célula do meu corpo diz-me que é assim que vai acabar. A mudança tem de acontecer...

Sento-me aqui e luto contra a ideia da inevitabilidade.


Se todas as permissas se alinham, se as condições são as mesmas salvo uma ou outra excepção, como será possível que o resultado seja diferente? Lá está a grande dúvida que me atormenta os sonhos e os pensamentos.

Será que as pequenas excepções fazem toda a diferença? Será que influenciam a história para melhor ou pior?

Nunca acreditei em destino e dou por mim a pensar que estou condenada a um apenas, que é inevitável fugir ao que me está destinado.

Quero tanto acreditar que não será assim e parte de mim quase que acredita até ao momento em que mais uma peça, mais uma frase, mais uma acção me leva de volta à história que já conheço e que tanta dor me causou.

Sento-me aqui com o coração nas mãos e com esperanças que desejo que não sejam infundadas, que no fim não vou acabar a história como vilã, que não vou ficar a observar as vidas dos outros a desejar fosse a minha e que não vou morrer estéril num canto escuro qualquer.


sábado, 14 de dezembro de 2013

V


Sento-me aqui e reflicto como sempre neste banco de jardim sobre esta ideia.
O que é o ciúme para mim? Porque é que tem sempre uma conotação negativa?
Só posso falar do que conheço, somente posso falar da minha perspectiva e do que faz sentido para mim.

Eu sou uma pessoa naturalmente ciumenta…
Não sou extremista, mas sou e será que é assim tão mau?

Dou voltas e voltas à cabeça, lembro-me perfeitamente das diversas opiniões e de quantas vezes me dizem que não posso ser assim, que não tenho motivos para isso… Errado!

Eu tenho ciúmes quando me importo o suficiente para ter medo de perder algo ou alguém.
Quando alguém é tão importante para mim que a ideia de algo ou alguém poder retirar essa pessoa da minha vida, reduzir o tempo que tenho com essas pessoas ou mesmo a relevância, reduzir ou minimizar a posição que ocupo na lista de prioridades dessas pessoas… Nestas situações tenho ciúmes…

Sim, existe toda uma parte que tem a ver auto-confiança, mas mesmo as pessoas mais seguras de si sentem ciúme e têm momentos em que duvidam de si, somos todos humanos no final de contas.

Para mim ciúme pode ser também veneno, mas qual será o melhor antídoto? Ignorar que existe? Comigo não resulta. Querem acalmar-me, reconfortem-me. Se o sinto é porque algo me afectou, me deixou desconfortável e se do outro lado algo o provocou, porque não tentar perceber porquê? Porque não tentar poupar o sofrimento que pode causar? Ignorar algo que me incomoda só me mostra indiferença, apenas reforça o que causou a angústia inicial.

Vivi longos anos com quem sempre me disse que não tinha ciúmes meus. Cada vez que o ouvia ficava triste e quando penso nisso agora ainda fico, e sei que cada vez que o ouvir vou ficar, porque para mim não sentir ciúme é o mesmo que tomar as pessoas por seguras, dá-las por certas sem receio das perder. Que valor têm senão se receia perdê-las? Nenhum e daí o desfecho dessa parte da minha vida.

Eu não quero essa sensação (outra vez) e não consigo imaginar alguém a querer alguma vez sentir-se como "garantida/o"… Quero que me estimem sempre como se fosse sempre a ultima vez que estivessem comigo.

Eu sou ciumenta, assumo, sempre assumi porque para mim no peso e medida certo, não é algo mau, muito pelo contrário.

No dia em que deixar de espernear, de chorar, de me queixar, de ter reacções emocionais e de sentir ciúme… Bem… Quando isso acontecer é porque já não é importante para mim. Já não sinto nada… Acabou.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

IV


As minhas reflexões e confissões continuam enquanto me sento aqui.

Podia sentir-me estranha aqui sentada a observar as pessoas que passam por mim mas a minha mente mantem-me  alienada de tudo o que se passa à minha roda.

Hoje não consigo deixar de pensar o quanto podemos viver enganados nas nossas próprias ilusões e o quanto choca e magoa quando levamos uma estocada da realidade e do que é verdadeiramente real.

Somos capazes de viver anos a fio a acreditar em algo que um dia por uma partida do destino descobrimos não ser o que pensavamos ser.

Será que por escolher acreditar no melhor das pessoas acabei por baixar a minha guarda e pegar numa pala que impedia de ver o que realmente se passava? Não meus caros, o pior é admitir que já sabia que algo se passava e tentar ignorar a partir do momento em que me senti sem forças para o enfrentar.

Sempre pensei que seria um pouco fria, sempre tomei decisões que pensei poupar as pessoas que me rodeavam à dor e acabei por ser a minha própria vítima.

O que fazer agora é o que mais me atormenta. Sim, tenho todo um plano ou uma ideia do que serão os próximos passos mas algo se perdeu pelo caminho.
Penso se terei perdido a minha capacidade de acreditar que existem pessoas boas, que mereço coisas boas. Penso que sou apenas um desperdício de espaço que vai falhando lentamente nas coisas que mais quer.

Sei que não é verdade, sei que sempre fui uma lutadora, que nunca baixei os braços enquanto tive forças, mas sinto-me cansada.
Há quem me apoie e me dê força através das coisas mais simples, há quem me consiga por sorrisos na face apesar de todas as adversidades.

Chego à conclusão que a única maneira de recuperar a fé nas pessoas terá de ser através desses sorrisos. Tenho de me reencontrar, encontrar o meu equilíbrio e lembrar-me de porque é bom continuar viva.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

III



Não me canso de vir até aqui... Dá-me paz e ajuda-me a reflectir...

Dou por mim a pensar em compatibilidades, em como o facto de elas existirem ou não, acaba por ser totalmente irrelevante na incessante busca pelo par ideal, pela cara metade para toda a vida.
 
Falamos tantas vezes nisso...  encontrar a pessoa certa mas na verdade ela não existe.  Apenas existe a busca egoista pela satisfação pessoal, pelo prazer... e por essa busca se sacrificam valores onde assentam conceitos como familia, lealdade, fidelidade, monogamia e amor.
Sacrifica-se a ideia de construir algo a dois pela satisfação de um, pelo hedonismo que cada vez mais domina o que me rodeia. Deixaram de existir coisas “especiais” para serem trocadas pelo “rápido”, “fácil” e “vulgar”, mas não para mim. Posso ser antiquada, retrógada mas não quero deixar de acreditar no “especial”.

Já conheci pessoas que eram compatíveis comigo quase a nível celular mas que nunca seriam parceiros ideais para mim.
Pessoas  em que o simples toque no braço liberta uma descarga eléctrica a que o corpo imediatamente responde, que conseguem ler os meus pensamentos apenas a olhar-me nos olhos, pessoas em que a química é tão forte que é quase palpável e desconfortável para os outros que estejam perto ou mesmo pela forma como gravitamos em redor umas das outras sem termos noção que o fazemos. 

Descobri que este nível de compatibilidade não funciona amorosamente, irónico não é?
Também descobri que nada se perde - conseguem-se grandes amizades com essas pessoas.
Conheci pessoas que nada têm a ver comigo e que me proporcionaram momentos verdadeiros e felizes, logo chego à conclusão que compatibilidade não é sinónimo de felicidade ou de possibilitar que as relações funcionem.  

Já pensei que tinha o resto da minha vida planeada e que sabia exactamente como se ia desenrolar e de um momento para o outro deu uma volta de 180 graus.

Era compatível?

Talvez sim, talvez não... Quando gosto de alguém moldo-me, cedo e adapto-me. 

Porquê?

Desde que não perca quem eu sou na minha essência, desde que não me anule, desde que não comece a viver a minha vida pelos outros, nada tem de errado moldar, ceder e adaptar.

Porque acredito que vale a pena continuar a lutar pelo “especial”, compatível ou não.