sábado, 14 de dezembro de 2013

V


Sento-me aqui e reflicto como sempre neste banco de jardim sobre esta ideia.
O que é o ciúme para mim? Porque é que tem sempre uma conotação negativa?
Só posso falar do que conheço, somente posso falar da minha perspectiva e do que faz sentido para mim.

Eu sou uma pessoa naturalmente ciumenta…
Não sou extremista, mas sou e será que é assim tão mau?

Dou voltas e voltas à cabeça, lembro-me perfeitamente das diversas opiniões e de quantas vezes me dizem que não posso ser assim, que não tenho motivos para isso… Errado!

Eu tenho ciúmes quando me importo o suficiente para ter medo de perder algo ou alguém.
Quando alguém é tão importante para mim que a ideia de algo ou alguém poder retirar essa pessoa da minha vida, reduzir o tempo que tenho com essas pessoas ou mesmo a relevância, reduzir ou minimizar a posição que ocupo na lista de prioridades dessas pessoas… Nestas situações tenho ciúmes…

Sim, existe toda uma parte que tem a ver auto-confiança, mas mesmo as pessoas mais seguras de si sentem ciúme e têm momentos em que duvidam de si, somos todos humanos no final de contas.

Para mim ciúme pode ser também veneno, mas qual será o melhor antídoto? Ignorar que existe? Comigo não resulta. Querem acalmar-me, reconfortem-me. Se o sinto é porque algo me afectou, me deixou desconfortável e se do outro lado algo o provocou, porque não tentar perceber porquê? Porque não tentar poupar o sofrimento que pode causar? Ignorar algo que me incomoda só me mostra indiferença, apenas reforça o que causou a angústia inicial.

Vivi longos anos com quem sempre me disse que não tinha ciúmes meus. Cada vez que o ouvia ficava triste e quando penso nisso agora ainda fico, e sei que cada vez que o ouvir vou ficar, porque para mim não sentir ciúme é o mesmo que tomar as pessoas por seguras, dá-las por certas sem receio das perder. Que valor têm senão se receia perdê-las? Nenhum e daí o desfecho dessa parte da minha vida.

Eu não quero essa sensação (outra vez) e não consigo imaginar alguém a querer alguma vez sentir-se como "garantida/o"… Quero que me estimem sempre como se fosse sempre a ultima vez que estivessem comigo.

Eu sou ciumenta, assumo, sempre assumi porque para mim no peso e medida certo, não é algo mau, muito pelo contrário.

No dia em que deixar de espernear, de chorar, de me queixar, de ter reacções emocionais e de sentir ciúme… Bem… Quando isso acontecer é porque já não é importante para mim. Já não sinto nada… Acabou.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

IV


As minhas reflexões e confissões continuam enquanto me sento aqui.

Podia sentir-me estranha aqui sentada a observar as pessoas que passam por mim mas a minha mente mantem-me  alienada de tudo o que se passa à minha roda.

Hoje não consigo deixar de pensar o quanto podemos viver enganados nas nossas próprias ilusões e o quanto choca e magoa quando levamos uma estocada da realidade e do que é verdadeiramente real.

Somos capazes de viver anos a fio a acreditar em algo que um dia por uma partida do destino descobrimos não ser o que pensavamos ser.

Será que por escolher acreditar no melhor das pessoas acabei por baixar a minha guarda e pegar numa pala que impedia de ver o que realmente se passava? Não meus caros, o pior é admitir que já sabia que algo se passava e tentar ignorar a partir do momento em que me senti sem forças para o enfrentar.

Sempre pensei que seria um pouco fria, sempre tomei decisões que pensei poupar as pessoas que me rodeavam à dor e acabei por ser a minha própria vítima.

O que fazer agora é o que mais me atormenta. Sim, tenho todo um plano ou uma ideia do que serão os próximos passos mas algo se perdeu pelo caminho.
Penso se terei perdido a minha capacidade de acreditar que existem pessoas boas, que mereço coisas boas. Penso que sou apenas um desperdício de espaço que vai falhando lentamente nas coisas que mais quer.

Sei que não é verdade, sei que sempre fui uma lutadora, que nunca baixei os braços enquanto tive forças, mas sinto-me cansada.
Há quem me apoie e me dê força através das coisas mais simples, há quem me consiga por sorrisos na face apesar de todas as adversidades.

Chego à conclusão que a única maneira de recuperar a fé nas pessoas terá de ser através desses sorrisos. Tenho de me reencontrar, encontrar o meu equilíbrio e lembrar-me de porque é bom continuar viva.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

III



Não me canso de vir até aqui... Dá-me paz e ajuda-me a reflectir...

Dou por mim a pensar em compatibilidades, em como o facto de elas existirem ou não, acaba por ser totalmente irrelevante na incessante busca pelo par ideal, pela cara metade para toda a vida.
 
Falamos tantas vezes nisso...  encontrar a pessoa certa mas na verdade ela não existe.  Apenas existe a busca egoista pela satisfação pessoal, pelo prazer... e por essa busca se sacrificam valores onde assentam conceitos como familia, lealdade, fidelidade, monogamia e amor.
Sacrifica-se a ideia de construir algo a dois pela satisfação de um, pelo hedonismo que cada vez mais domina o que me rodeia. Deixaram de existir coisas “especiais” para serem trocadas pelo “rápido”, “fácil” e “vulgar”, mas não para mim. Posso ser antiquada, retrógada mas não quero deixar de acreditar no “especial”.

Já conheci pessoas que eram compatíveis comigo quase a nível celular mas que nunca seriam parceiros ideais para mim.
Pessoas  em que o simples toque no braço liberta uma descarga eléctrica a que o corpo imediatamente responde, que conseguem ler os meus pensamentos apenas a olhar-me nos olhos, pessoas em que a química é tão forte que é quase palpável e desconfortável para os outros que estejam perto ou mesmo pela forma como gravitamos em redor umas das outras sem termos noção que o fazemos. 

Descobri que este nível de compatibilidade não funciona amorosamente, irónico não é?
Também descobri que nada se perde - conseguem-se grandes amizades com essas pessoas.
Conheci pessoas que nada têm a ver comigo e que me proporcionaram momentos verdadeiros e felizes, logo chego à conclusão que compatibilidade não é sinónimo de felicidade ou de possibilitar que as relações funcionem.  

Já pensei que tinha o resto da minha vida planeada e que sabia exactamente como se ia desenrolar e de um momento para o outro deu uma volta de 180 graus.

Era compatível?

Talvez sim, talvez não... Quando gosto de alguém moldo-me, cedo e adapto-me. 

Porquê?

Desde que não perca quem eu sou na minha essência, desde que não me anule, desde que não comece a viver a minha vida pelos outros, nada tem de errado moldar, ceder e adaptar.

Porque acredito que vale a pena continuar a lutar pelo “especial”, compatível ou não.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

II



Dou por mim sentada neste banco mais vezes do que deveria...
Esta solidão leva-me a reflectir sobre coisas que deveria superar, coisas que residem no meu intimo mais negro e que jamais sairiam da minha boca. 

Já há muito tempo que vivo com a sensação de que nunca fui “suficiente”, que a pessoa que sou não chegava para os outros. Não chegava para os meus pais, não chegava para os meus namorados e também não chegava para os meus amigos.
Sempre dei tudo de mim e nunca foi suficiente... 

Sei que não se pode agradar a gregos e troianos, sei que não se pode esperar perfeição de seres humanos onde o erro veio intrinsecamente na construção, mas isso não significa que os outros, e eu mesma, não a procure.
Mas a questão de sentir-me insuficiente grande parte do meu tempo, no fundo, nada tem a ver com os outros mas sim comigo.
Sou eu que tenho de estar satisfeita comigo mesma e o que os outros pensam de mim não deve importar, devo ser fiel a mim própria independentemente da opiniões exteriores. 
A teoria sei toda, pô-la em práctica é outra história.

Estava há dias no ginásio e sentia-me particularmente “insuficiente”, entrei na sauna como
costumo fazer e fui abordada por uma mulher que lá se encontrava.
De uma completa estranha vieram palavras de conforto. 

Aquela estranha olhou para mim e viu coisas que muitas pessoas que me conhecem não conseguem ver e reconfortou-me. 

Estranho como o universo se alinha para aliviar as almas quando menos se espera.
Tenho muito para aprender e o que aquela estranha me ensinou naquele dia foi que não devia desistir do mundo que me rodeia, que quando menos esperamos, quando nos sentimos desnecessários e insuficientes há alguém que nos estende  a mão e nos conforta. 

Nem que seja uma estranha na sauna de um ginásio que poderei nunca mais encontrar e de quem nem sei o nome.

domingo, 18 de agosto de 2013

I


Há coisas que não consigo explicar...


Não sei exactamente quando foi que perdi a pessoa que era para ser substituída por uma versão muito mais pobre de mim própria.
Também não sei o momento exacto em que deixei de sonhar e de acreditar verdadeiramente que coisas boas estariam no meu caminho.
Sei que o eu que eu era, era caprichoso, orgulhoso, arrogante e extremamente manipulador. Tudo para mim era um jogo e agora dou por mim farta de perder num jogo onde antes brilhava.
Talvez fosse arrogância da juventude, a confiança de uma figura atraente que conseguia o que queria mais cedo ou mais tarde.
Sempre defendi que as pessoas não mudam, mas na verdade sou a prova desta teoria. 


Mudei, mudei muito.


Mudei na minha cabeça, mudei nas minhas ambições, mudei nas minhas crenças, nos meus planos de futuro e também fisicamente.
Os cabelos brancos que começam a despontar são que nem cicatrizes de guerra, o chiar dos meus joelhos lembranças de tempos em que desisti de mim. 


A idade trouxe-me certezas, a certeza de que no fundo a chave para tudo está em mim e em saber o quero e não quero. 


Sei que quero começar a ser mais egoísta, sei que quero criar uma criatura seja ela minha biologicamente ou não. Sei que ainda quero viajar a alguns sítios como o Japão rural e a New Orleans, ver a mansão da Anne Rice e talvez conseguir conhecê-la.
Também sei o que não quero... não quero chegar ao fim dos meus dias e sentir que não vivi, não quero sentir que me defino pelas pessoas com quem estou e não quero sentir-me só.
Talvez não consiga tudo ou mesmo nada, mas quero saber e sentir que tentei com todas as minhas forças fazê-lo. 


Saber que tentei ser a melhor versão de mim possível para que quando o dia chegar possa partir em paz.